Um dia, um garoto com cerca de doze anos levou o rebanho
de carneiros de seu pai sobre as encostas dos montes D’Arré, não longe da vila
de Sizun. Quando ele chegou às pastagens, ainda tinha um pouco de bruma ao
redor do pico da montanha e o garoto tentava ver d’onde vinha esse nevoeiro.
As pessoas da vila contam que, quando o nevoeiro
vinha do lado de Commana, faria sol, mais se ele vinha de Saint Eloy, choveria.
Como ele olhava ao redor da paisagem tranquila e silenciosa, a surpresa foi
imediata e o fez saltar: ele percebeu sobre as encostas de monte Saint Michel,
em Brasparts, um grupo de pessoas que ele acreditava serem soldados, fazendo um
circulo, como para um exercício. Porem o garoto começando a entender os hábitos
dos soldados, diz para si mesmo, que era muito cedo do dia para que esses já
estivessem ali.
Deixando o rebanho pastar tranquilamente sobre a
guarda dos cães, ele anda nessa direção e, quando chega mais perto, ele
constata que não eram soldados que ele via, mas pessoas do mundo das fadas.
Eles estavam ocupados em dançar em circulo, sem se preocuparem com o que se
passava ao redor.
O garoto tinha escutado varias vezes os velhos da
vila falarem das fadas e ele mesmo, muitas vezes tinha visto os círculos que
elas tinham deixado, as "pessoas pequenas", sobre a grama, de
manhã, após terem dançando toda a noite.
Mas ele nunca os tinha encontrado. Sua primeira
idéia foi de retornar apressadamente para casa e contar aos seus pais o que ele
tinha visto, mas ele abandona esse projeto, se dizendo que as fadas poderiam não
mais estar lá quando ele voltasse.
Ele decide se aproximar prudentemente para melhor
os observar. De qualquer jeito, ele sabia que as pessoas pequenas não o atacariam:
tudo o que ele temia era que eles desaparecessem logo percebessem a presença de
um ser humano.
Ele avança então, ao longo dos arbustos para melhor
se esconder e consegue, dessa maneira, se esconder o mais perto possível do
circulo. Lá, ele fica imóvel e abre bem os olhos para não perder nada da cena.
Ele pôde assim constatar que, entre as pessoas
pequenas, existia um número igual de homens e mulheres, mas todos estavam
extremamente elegantes e brincalhões. Nem todos dançavam e alguns estavam
tranquilamente perto do circulo, esperando entrar na roda. Algumas mulheres
montavam pequeninos cavalos brancos dancarinos.
E todos eles usavam belas roupas de diferentes
cores, e como alguns entre eles usavam roupas vermelhas, o garoto havia pensado
que eram soldados. Ele estava lá, em plena contemplação desse espetáculo
incomum, quando as fadas o perceberam. Ao invés de parecerem hostis ou de
fugirem, eles lhe fizeram sinal para entrar no circulo e se juntar em sua
dança. Ele não hesita, porém, desde que ele entra no círculo, ele escuta a mais
doce e irresistível música que ele já escutou.
Imediatamente, sem compreender o que se passava, ele
se encontra no meio de uma elegante casa, aos muros recobertos de tapeçarias de
todas as cores. Jovens moças adoráveis lhe acolhem e o conduzem a uma grande
sala onde comidas apetitosas estavam dispostas numa mesa.
Elas o convidam para comer, e o garoto, que não
conhecia que as habituais batatas ao leite de manteiga, que constituíam as refeições
na fazenda, se delicia com os pratos de uma requintada fineza, todos a base de
peixes. E lhe dão a beber o melhor vinho que foi servido em
copo de ouro cravado de pedras preciosas. O garoto se acreditava no paraíso. A
música e o vinho o entorpeciam, e a visão dessas jovens ansiosas em torno dele
o encantava. Uma delas lhe diz então num tom amável:
- Você pode ficar aqui o tempo que quiser. Você se
juntará conosco dia e noite e você terá o que comer e beber tanto o quanto
desejares. Mas há uma coisa que você não deve jamais fazer: beber a água do
poço que se encontra no meio do jardim, mesmo que tenhas muita sede, pois então,
você não poderá mais morar aqui.
O garoto se apressa em garantir que ele tomaria
muito cuidado a não infligir essa proibição. E quando ele foi bem saciado, as
jovens o levaram para dançar. Ele não se sentia cansado e seria capaz de se
divertir assim durante toda a sua vida. Nunca ele tinha feito uma tamanha
festa, jamais ele tinha provado tamanha alegria, uma felicidade de se achar no
meio de um luxo incomum, com pessoas elegantes e distintas que lhe tratavam com
doçura e cortesia. Acontecia-lhe de pensar na fazenda, a seu rebanho, a seus
pais, mais ele caçava rapidamente essas imagens de seu espírito para melhor
absorver a dança e a musica.
Um dia, no entanto, quando ele pegava ar no jardim,
no meio das flores mais belas e perfumadas, ele se aproxima do poço e se
pendura para ver o que havia em seu interior: ele percebe uma multidão de
peixes brilhantes que tremiam e enviavam para ele a luz do sol. Então ele não
pôde resistir: ele aproxima seu braço e sua mão toca a superfície da água. Logo
os peixes desaparecem e um grito confuso se fez escutar através do jardim e da
casa. A terra começou a tremer bruscamente e o garoto se encontra no meio de
seu rebanho, na encosta do monte Saint-Michel.
Ainda existia a neblina no pico
da montanha, mas o garoto, apesar de procurar em todo lugar, não pôde descobrir
nenhum traço do circulo, nenhum traço de poço, nem da casa das fadas. Ele
estava sozinho nas montanhas, e seus carneiros pastavam pacificamente como se
nada tivesse acontecido.
Fonte: culture bretonne




