Desde várias horas, Dagolitos e Éporédax escalavam a
montanha sagrada. Os dois guerreiros tinham passado as últimas arvores e avançavam
agora ao meio de uma charneca de urzes. Eles param para repor o fôlego. O
silencio do lugar os impressionam. Eles sentem, confusamente, nesta solidão uma
misteriosa presença.
Instintivamente, para se tranquilizarem, eles serram a mão
no punho das espadas. Se arrependem de terem aceito essa estúpida aposta lançada
no fim de um banquete com muitas bebidas. Porque eles tinham que falar que
estavam preparados para subirem até o cume da montanha sagrada?
Nesse momento, eles pensam terem subido sem maiores preocupações
e compreendem o caráter insensato de suas decisões. Eles ficariam bastante
assustados se eles pudessem ver lá encima, sobre eles, o grande Taranis que os
observava incomodado. O senhor dos céus contrariado passa as mãos nervosamente
em sua barba cacheada. Ele não aprecia em nada a audácia desses insolentes que tentam
se aproximar dos deuses!
Os dois amigos, hesitam. Em baixo, o mundo parece tão
pequeno, tão longe. Eles têm a impressão de estarem num outro universo. Não
valeria mais voltar o caminho percorrido enquanto eles ainda tinham tempo? No
entanto, o pico estava próximo. Seria uma pena renunciar tão perto da
conquista!
Apesar de suas inquietudes, Dagolitos e Éporédax recomeçam a
andar. Então, Taranis, vendo a teimosia dos dois homens, deixa brutalmente
transparecer sua cólera. Tirando uma das espirais que ele porta no ombro, ele a
joga ferozmente sobre a terra. Um relâmpago cegante rasga o céu. Depois o deus
cresce com todas as suas forças uma roda solar da carne de suas costas: um
rugido terrificante invade o espaço, um barulho ensurdecedor que vem de todo lugar
ao mesmo tempo. Não se invade
impunemente o domínio dos deuses e em particular aquele do grande Taranis!
Perturbados, os gauleses se encostam um contra o outro. Eles
se assustam a cada vez que o relâmpago se abate sobre a montanha. Como eles
preferiam estar sobre o campo de batalha, em face de inimigos mortais. Eles
jogam suas espadas como demostração de suas intenções pacíficas. Aliás de que
serviriam elas contra os poderes divinos? Pela primeira vez em suas vidas, eles
tiveram medo. Certamente em algum momento, o céu cairá sobre suas cabeças!

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