segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Cólera de Taranis I


Desde várias horas, Dagolitos e Éporédax escalavam a montanha sagrada. Os dois guerreiros tinham passado as últimas arvores e avançavam agora ao meio de uma charneca de urzes. Eles param para repor o fôlego. O silencio do lugar os impressionam. Eles sentem, confusamente, nesta solidão uma misteriosa presença.

Instintivamente, para se tranquilizarem, eles serram a mão no punho das espadas. Se arrependem de terem aceito essa estúpida aposta lançada no fim de um banquete com muitas bebidas. Porque eles tinham que falar que estavam preparados para subirem até o cume da montanha sagrada?

Nesse momento, eles pensam terem subido sem maiores preocupações e compreendem o caráter insensato de suas decisões. Eles ficariam bastante assustados se eles pudessem ver lá encima, sobre eles, o grande Taranis que os observava incomodado. O senhor dos céus contrariado passa as mãos nervosamente em sua barba cacheada. Ele não aprecia em nada a audácia desses insolentes que tentam se aproximar dos deuses!

Os dois amigos, hesitam. Em baixo, o mundo parece tão pequeno, tão longe. Eles têm a impressão de estarem num outro universo. Não valeria mais voltar o caminho percorrido enquanto eles ainda tinham tempo? No entanto, o pico estava próximo. Seria uma pena renunciar tão perto da conquista!

Apesar de suas inquietudes, Dagolitos e Éporédax recomeçam a andar. Então, Taranis, vendo a teimosia dos dois homens, deixa brutalmente transparecer sua cólera. Tirando uma das espirais que ele porta no ombro, ele a joga ferozmente sobre a terra. Um relâmpago cegante rasga o céu. Depois o deus cresce com todas as suas forças uma roda solar da carne de suas costas: um rugido terrificante invade o espaço, um barulho ensurdecedor que vem de todo lugar ao mesmo tempo.  Não se invade impunemente o domínio dos deuses e em particular aquele do grande Taranis!

Perturbados, os gauleses se encostam um contra o outro. Eles se assustam a cada vez que o relâmpago se abate sobre a montanha. Como eles preferiam estar sobre o campo de batalha, em face de inimigos mortais. Eles jogam suas espadas como demostração de suas intenções pacíficas. Aliás de que serviriam elas contra os poderes divinos? Pela primeira vez em suas vidas, eles tiveram medo. Certamente em algum momento, o céu cairá sobre suas cabeças!

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