Os caçadores estão imobilizados, petrificados. Diante deles,
na clareira, um cervo de uma altura inabitual se mostra majestoso, portando
sobre a cabeça uma imponente galhada.
“O Senhor da Floresta!”
Os gauleses reconheceram a tufa de pelos claros em forma de
lua crescente que ele porta no meio da testa. É o velho solitário, aquele que, não aparece que a cada
trinta anos, esse cervo inacessível do qual os antigos falam no fim dos
banquetes, quando a cerveja solta às línguas e faz montar à memória,
intermináveis historias de caça.
O que espera ele nessa pose solene? Seu faro tão agudo não
lhe sinalizou a presença dos homens? O animal agita uma orelha, vira lentamente
a cabeça. Seu olhar fixa os caçadores... e no entanto, sem se apressar, com
toda dignidade de sua estatura, ele faz alguns passos antes de pegar seu
impulso para saltar, com forca e agilidade, embaixo de um matagal.
Refeitos da surpresa, os gauleses se apressam em retornar à
vila e anunciar seu extraordinário encontro.
Um longo balido os faz parar. O cervo não deve estar longe. Eles se
precipitam em sua procura. Que orgulho se eles pudessem lhe capturar! Que acolho triunfal se eles levassem o senhor
das florestas!
Eles percebem novamente o cervo a pouca distancia deles, a cabeça
levantada para pastar alguns ramos. Ele parece os esperar. Desde que eles se
aproximam, ele retoma sua corrida com calma e seriedade. Uma vez, duas vezes,
vinte vezes o cervo deixa os homens se aproximarem para depois continuar a
escapar.
Os gauleses se aborrecem: com certeza o velho solitário
zomba deles! Mas eles acabarão por terem a sua pele! E eis que ele se encontra
nos pés de um penhasco. Os caçadores, habilmente, o cercam: eles não podem mais
se conterem! Com todas as suas forcas, eles lançam os dardos. As armas se
quebram sobre o rochedo. No ultimo minuto, o cervo desapareceu em uma fenda do
penhasco escondido por um muro de hera.
Loucos de raiva, percebendo que mais uma vez foram
enganados, os gauleses agarram suas espadas e penetram na fissura do penhasco. A
escuridão torna-se total. Eles avançam tateando num caminho estreito. Eles
erraram em insistir? Talvez. Não estão eles próximos de encontrar a casa de
algum deus subterrâneo?
Pouco importa: sua ira é tão grande que eles não pensam em mais
nada... no final, depois de arranharem a pele nas pedras rochosas, eles saem em
uma vasta caverna. Um fraco luar esverdeado descia da abobada, numa parte danificada.
Tão logo entraram nessa estranha caverna, os caçadores gritam e curvam-se para
o chão. Diante deles, um curioso personagem espera sentado de pernas cruzadas.
É um nobre velho vestido à moda gaulesa, um torc de ouro no pescoço, de
magníficas galhadas enfeitadas com anéis brilhantes sobre a cabeça.
“Cernunnos! O Gamo-rei!"
O velho solitário, então
era ele! O deus abre o saco cheio que possui entre os joelhos. Moedas de ouro
escapam, rodam até os caçadores. Esses não sem mexem. Eles parecem
petrificados de medo apesar do ar tranquilo de Cernunnos. Eles têm a impressão
que seus membros endurecem, que seus corpos congelam.Suas pálpebras pesam. Incapazes de lutarem contra esse
entorpecimento, eles caem no sono.
Quando acordam, já fazia noite. Eles estão
sozinhos na gruta. Eles não sabem quanto tempos eles ficaram adormecidos. Eles
se perguntam se realmente viram o deus cervo ou se não foram vitimas de uma
alucinação. Um dentre eles, que estava de pé, tropeça num obstáculo: o saco!
Não, eles não sonharam. O generoso Cernunnos, deus da abundancia, desapareceu,
mas tinha deixado para eles, um fabuloso tesouro.
Les Légendes du Monde - traduzido do original em frances por Elantia Leto

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