terça-feira, 29 de maio de 2012

A Lenda do Ankou


Os celtas não temiam a morte, pois acreditavam que a alma continuava sua jornada em Antumnos. Com o aumento da cristianização na Europa, muitos deuses foram relegados a personagens históricos ou folclóricos, principalmente os do submundo que passaram a serem temidos e evitados. Assim surge na Bretanha, o medo do Ankou.

Pertencendo ao folclore tradicional bretão, o Ankou é uma reminiscência do politeísmo celta e mais precisamente do deus cuja finalidade era a perpetuação dos ciclos, das estações, do dia e da noite, do nascimento e da morte.  Por portar o Mell Benniget – malhete abençoado, ele se aproxima dos deuses Sucellos e Eochaid Ollathair/Dagda [Irlandeses], que tinham como atributo dar e retirar a vida. Outra referencia de que o Ankou é celta são suas referências no folclore galês – sobre o nome de Arghau, e Ancow na Cornualia. Com o passar dos tempos suas funções iniciais foram reduzidas apenas para o “auxiliar da morte”.

Senhor do além, o Ankou é onipotente. Descrito como um esqueleto, às vezes envolto numa mortalha, segurando uma foice ao contrário – suas representações antigas o mostram armado com uma flecha, lança ou martelo.  Ankou aparece à noite, em pé numa charrete cujos eixos rangem. Esse fúnebre comboio é a “karrig na Ankou ou Karriguel na Ankou”, literalmente charrete ou carrinho de mão de Ankou. Muitos bretões do litoral costumam atribuir à descrição do ankou, um pirata esqueleto que navega pela costa com seu “Bag Nez”, um navio noturno. 

Escutar os rangimentos das rodas ou cruzar no caminho com uma sinistra carruagem são sinais anunciadores da morte de um parente. O cheiro de vela, o canto de um galo à noite, barulhos de sinos, são igualmente interpretados como anunciadores da morte. O medo do Ankou criou algumas lendas e curiosidades na Bretanha, tais quais:

- O ankou se acorda todas as noites de dezembro e em especial na véspera do natal, na qual os bretões costumam deixar a lareira acesa e alguns crepes na mesa, pois assim o Ankou trocaria a alma deles pelo calor e comida.

- Algumas igrejas no interior ainda possuem crânios em seus oratórios para que os paroquianos possam rezar em sua intenção.

- Na “noite das maravilhas”, entre 21 e 25 de dezembro, o Ankou costuma passar sua capa na cabeça das pessoas que morrerão ainda esse ano.

- Em sua versão “humana” o Ankou é visto como um homem alto e magro, com longos cabelos brancos; em outras, seu crânio gira sem parar, assim ele pode ver tudo que se passa na região que ele terá de percorrer.

- Ankou não é considerado como a própria morte, mas sim como um auxiliar, o “ceifeiro” que leva às almas ao outro mundo, sendo considerado um ente psicopompo. Sua foice não atinge quem está mais próximo, ela atinge quem ele quiser jogando-a pelo ar.

- Entre os camponeses acredita-se que o último morto do ano tornar-se-á o Ankou do ano seguinte. Quando há muitas mortes em dezembro, costuma-se dizer em voz alta “war ma fé, herman zo eun Anko drouk” – em francês Sur ma foi, celui-ci est un Ankou méchant [Por minha fé, este é um Ankou malvado].

La Martyre

- A etimologia da palavra Ankou vem do bretão Anken – tristeza ou de Ankoun – esquecido.

- O ankou possui referência nas igrejas bretãs de Brasparts e La Roche-Maurice: “Eu mato todos vocês” e “Lembra-te homem que tu és poeira” e ainda, escrito em bretão antigo, “a morte, o julgamento, o inferno gelado: quando o homem pensa, ele deve temer” – La Martyre.

 

Fontes: Culture Bretonne/Bretagne.com

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