segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Corça Branca


A corça branca é um animal fabuloso presente em numerosos contos e lendas antigas. Dependendo da época e do local das lendas, a história sofre variantes: em alguns lugares é descrita como um animal fantástico que surge do além para enganar os caçadores. Em outras, a corça pode se transformar numa linda mulher - em pleno dia ou durante a noite, seguidas de uma maldição. Uma variante também mostra a corça como baba de bebes ou então na espera do amor verdadeiro de um cavaleiro para que o feitiço seja quebrado.

Na mitologia celta a corça é um símbolo de fertilidade da natureza selvagem. Em geral os animais brancos são criaturas mágicas do outro mundo e são ligados às fadas, que por sua vez são vagas lembranças das deusas-mães da era matriarcal. Nessa época, o casamento e o reconhecimento da paternidade não existiam; o amor, a sexualidade e as mulheres eram livres – uma sociedade sem pai nem marido onde o tio materno educava os sobrinhos no lugar do « pai ».

Considerada como animal totêmico também representa a linhagem sagrada das mães e pode ser encontrada em lendas famosas como « o conto das crianças cisnes » de Jehan de La Haute-Selve, A corça e a Pantera, Isomberte, Angleburg e na trova O lamento de Margarida [La conplainte de Marguerite].

Nesta canção, Renaud – o irmão – mata a corça branca [animal totem de sua família materna]. Esta corça, símbolo da mulher selvagem e não submissa, que brinca livremente no interior da floresta noturna, é sua própria irmã Margarida, aquela que passaria sua linhagem [sobrinhos] e a qual deveria proteger.

Analisada, esta canção passou a representar o fim do matriarcado na época antiga, pois o homem – antes em papel secundário – mata seu próprio sangue e assume o poder, como também pode ser visto em outros mitos antigos com Horácio – que mata sua irmã Camille e Orestes – que mata sua mãe Clytemnestre.

Na nova ordem patriarcal, o pai ou irmão deve vigiar a virtude da mulher, nascendo assim o culto à virgindade [garantia de reconhecimento da paternidade], sobre o risco de assassinato [crimes de honra] para proteger a reputação da família [linhagem patriarcal].

Fonte: Matricien.org

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