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Hoje é o sexto dia após a lua nova, época onde ela desenha
sobre o céu uma bela foice dourada, um croissant elegantemente delgado. Desde a
véspera, uma leve camada de neve varre o solo e do céu uniformemente cinza,
caem sempre alguns flocos. Para se proteger do fio, os homens serram cuidadosamente
seus braies aos tornozelos e enterram a cabeça no capuz de seus mantos. As
mulheres se enrolam numa grossa capa de lã em cores vivas.
Apesar do mau tempo, os Arvenes da região vieram ao encontro
fixado pelo druida Teutomatos. Desde os nobres, cercados de seus clientes, até
os mais humildes camponeses com suas esposas, todos responderam seu chamado com
prontidão.
A procissão se agita e sai da cidade. Primeiro entre os
homens, reconhecemos facilmente o druida com sua vestimenta branca. Somente ele
sabe o caminho a seguir, ele que se aproxima dos deuses, e cada um lhe segue
com confiança sem questiona-lo. De tempos em tempos, ele recita algumas litanias mais suas
palavras logo se perdem no ar gelado, e um doce silêncio recai sobre a procissão
entorpecida. Logo atrás dele, dois jovens bois brancos, os quais acabam de
receber o jugo pela primeira vez, andam num passo pesado, com ar resignado.
Faz um momento que o caminho se tornou mais íngreme;
ele sobe através do topo de um planalto recoberto de uma densa floresta.
Chegando a borda da floresta, Teutomatos para por um instante para que o
cortejo se reagrupe, depois ele some nesse mundo sem horizonte, fechado de
todos os lados por troncos de incontáveis arvores. De repente, a brisa se levanta e os galhos se entrechocam. Poderíamos
dizer que a floresta se pôs a falar, a responder às palavras do druida. Ninguém,
entre todos aqueles que o seguem, duvida que Teotomatos conheça a linguagem das
arvores.
A medida que os gauleses avançam sobre a floresta, o caminho
se apaga; o ultimo traço que os ligavam a seu universo familiar, dos
campos e das aldeias, desaparecem. Quando eles encontram uma clareira, o homem
de branco faz um gesto; logo todo mundo se imobiliza.
« Dervo ! » grita ele apontando o dedo para
um velho carvalho rouvre*de ramos atormentados.
« Dervo ! » repete religiosamente a multidão.
Lá encima, perto do topo, uma gorda moita de visco desenha
uma bola verde. Uma vez ainda, o druida conduziu seu povo para a arvore
sagrada, aquela que os deuses escolheram para portar a planta venerada, essa
curiosa planta de bagas brancas que não cresce pela terra e que floresce
quando toda a vegetação adormece.
Para os gauleses, o visco, que não cresce no solo, pertence
a um outro universo, aquele dos deuses e dos mortos. Vivo sobre o galho morto
que o segura, ele vem lembrar que a morte pode gerar a vida, esperança de um "além" cujo druidas não cessam de recordar sua existência.
A multidão formou um circulo ao redor da arvore. Teutomatos,
após alguns esforços, consegue subir até o primeiro galho. De lá, ele ganha
facilmente o topo do carvalho. Ele retira então sua foice de fina lâmina de
ouro, metal puro por excelência e cujo brilho imita aquele do sol.
Ele entoa com sua voz grave algumas preces e corta o visco
que recolhe cuidadosamente num lençol imaculado. Durante esse tempo, os
sacrificadores imolam os dois bois. Os flocos caem mais e mais fortes;
a noite invade a vegetação. A cerimônia se conclui. Voltamos para a vila com
uma certa pressa, felizes por trazer o visco sagrado.
· * Um tipo de carvalho que cresce em solo seco e
cujas bolotas quase não possuem cauda.
Les Legendes du Monde - traduzido do original em francês por Elantia Leto.
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