Desde um momento que Brennus não tira os olhos da linha
dentada de Apennin que barra o horizonte. Atrás dele, trezentos mil homens de
seu exército lhe observam sem falar nada. Ele não prometeu a glória aos que
aceitassem segui-lo para o outro lado dessas montanhas ? O solisticio de verão se aproxima e a lua vai logo atingir
sua amplitude máxima. Os druidas julgam que o momento é enfim favorável. O
exército pode se tranquilizar. Os romanos esperam nas bordas de Allia, um modesto afluente
do Tibre, bem decididos de pararem essas « hordas bárbaras », mas,
desde que eles escutam os clamores de seus adversários crescerem, eles fogem
quase sem combater : mais uma vez o poder « mágico » da palavra
se fez.
Só resta a Brennus caminhar para Roma. E qual não é sua
surpresa quando ele descobre que os portões da cidade estão abertos. No
interior nada se mexe. Temendo uma armadilha, o gaulês hesita antes de penetrar
na cidade e é com a maior das prudências que ele se aventura pelas ruas
misteriosamente desertas. Sua surpresa é ainda maior quando ele descobre, sentado
sobre curules*, veneráveis anciões totalmente imóveis.
Impressionados,
o
exercito os olham com certo respeito, não sabendo se são homens de carne
e osso
ou estátuas. Um soldado, mais audacioso que os outros, puxa ligeiramente
a
longa barba branca de um desses estranhos espectros. Imediatamente, o
velho
bate um violento golpe com seu bastão de marfim na cabeça do insolente.
Esse gesto do ancião desencadeia a raiva dos gauleses que
massacram alguns romanos que se achavam no local e pilham casas e
templos. No
entanto, uma parte da vila escapa de Brennus. A colina do capitólio,
poderosamente fortificada, serve de trincheira a uma punhada de
defensores
decididos a lutarem até o fim.
O tempo passa. Uma noite, os gauleses, aproveitando a
escuridão, tentam escalar, no mais profundo silêncio, a subida íngreme da
colina. Tudo se passa bem. Nem os sentinelas, nem os cães de guarda percebem o
perigo. É então que os gansos sagrados de Juno, deusa protetora de
Roma, começam a gritar e a bater as asas, correndo em todos os sensos, perturbados.
O romano Manlius, o primeiro, dá o alerta. Com seu escudo, ele faz cair no
vazio um gaulês que estava quase chegando ao baluarte. Com sua queda, ele leva
aqueles que o seguia.
O ataque ao capitólio fracassou...por conta dos gansos
sagrados! No entanto, os sitiados sofrem cada vez mais de fome e devem
renunciar e fazer um trato com os gauleses. O tribuna Sulpicius vai ao encontro
de Brennus que exige um resgate; os romanos têm que aceitar as condições dos
vencedores.
Quando juntaram o enorme tesouro, os romanos levam ao chefe gaulês
que faz proceder a uma longa e minuciosa pesagem. Sulpicius, percebendo que os
pesos utilizados eram falsos, se queixa à Brennus. Esse ultimo, que sabia bem, lança sua espada sobre a balança
gritando com arrogância: “Infelicidade aos vencidos”!
Os romanos guardarão
sempre uma terrível lembrança dessas hordas gaulesas vindas para pilhar suas
cidades.
·
*Um tipo de assento feito de marfim cujos magistrados
romanos costumavam se sentar.
Les Légendes du Monde - traduzido do original em francês por Elantia Leto

0 comentários:
Postar um comentário