sábado, 19 de maio de 2012

O Potro de Épona


"Um sol primaveril ilumina o vale; uma leve brisa balança as folhas dos choupos. Parada na borda de um riacho, uma égua branca se sacia enquanto seu jovem potro brinca ao seu redor. Sentada sobre suas costas, uma graciosa amazona veste um longo vestido plissado de mangas curtas.

Seus cabelos, dispostos em duas bandas separadas por um raio, tombam em coque sobre sua nuca. Algumas mechas, que escaparam durante a corrida, caem sobre sua testa. A bela amazona, se servindo d’água como um espelho, ajeita seu penteado... o potro, cansado de correr, vem mamar na mãe...

Sem barulho, para não afugentar a bela aparição, camponeses, que trabalhavam ali próximo, se aproximaram. Um sorriso ilumina seus rostos quando reconhecem Épona, a deusa égua. Ela parou em seus campos: a próxima colheita será então abundante! - pensam.

Um dentre eles, Nertovir, um gaulês reputado por seus truques, teve então uma ideia: capturemos o potro de Épona, disse ele àqueles que o cercam, e nos teremos todos os anos, celeiros bem cheios, rebanhos sadios e gordos. 

Correndo até a aldeia vizinha, ele avisa à todos os homens que consegue achar. Munidos de redes que lhes servem ordinariamente à captura de javalis, eles voltam ao campo onde estava a divina amazona.

Os camponeses se organizam em um grande circulo ao redor do campo e depois avançam muito lentamente, quase rastejando, para a égua. O cerco se fecha. Quando Épona percebe a armadilha, ela faz sua égua partir em galope. Os gauleses se precipitam gritando em torno do jovem potro que pastava ao longe. O pobre animal, assustado, queria fugir, mas as redes, jogadas de todas as direções, o impedem. O potro se enreda nas malhas de cânhamo; ele se debate e cai.

Os homens conseguem amarrar suas patas e imobilizado pelas cordas, o potro de Épona é levado até a estrebaria de Nertovir. Por mais segurança, se reforça a porta com solidas pranchas de madeira.

No meio da noite, Nertovir é acordado pelos latidos de seus cachorros. Ele se levanta apressado e sai de sua casa. Lá fora, ele encontra outros camponeses, alertados eles também, pelos barulhos suspeitos. Alguns acreditam ter visto, deslizando entre as casas, a sombra de um cavalo branco e sua amazona. Eles imediatamente pensam em Épona e se dirigem à estribaria de Nertovir, no entanto a porta continua bem fechada e as madeiras não foram mexidas. Um pouco tranquilizados, cada um retorna para dormir.

Quando pela manha, Nertovir vai alimentar o potro, qual não é a sua estupefação de achar a estribaria vazia! Um grande buraco perfurado na parede dos fundos permitiu ao animal reencontrar a liberdade. Nenhuma duvida então de que a misteriosa amazona, que durante a noite rondava a aldeia, era Épona. Nertovir se arrepende de sua louca empreitada e agora teme a vingança da deusa, de cujo potro quis se apropriar."

Les Légendes du Monde - traduzido do original em francês por Elantia Leto


Nessa fábula podemos perceber os aspectos da abundâcia e da maternidade atribuídos à deusa gaulesa Épona. Como também a questão, bastante vista na literatura, do homem que visando o próprio lucro, rouba algo divino dos deuses e com isso sofre consequências geralmente negativas.

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