terça-feira, 29 de maio de 2012

O Combate das Árvores


Os 25.000 homens do cônsul Postumius penetram com apreensão na sombria floresta de Litena, no território dos Boiens, uma tribo da Gália Cisalpina, no norte da Itália. Os romanos temem os lugares arborizados onde suas legiões não podem evoluir livremente e onde, sempre a mercê de uma emboscada, eles são particularmente vulneráveis. Portanto, nessa região acidentada, não existe outro caminho que não seja esse desfile estreito que serpenteia entre as encostas cobertas de escuros pinheiros.

Os soldados de Postumius têm razão de desconfiarem. Os gauleses lhes prepararam uma armadilha à sua maneira. De cada lado do caminho, sobre uma boa largura, eles cortaram a base dos troncos das arvores de maneira que elas fiquem ainda de pé, mais que o menor choque possam lhes fazer cair. Quando a maioria da tropa romana está bem posicionada, os Boiens escondidos nas alturas, empurram os pinheiros que estão próximos a eles. Esses conduzem por sua vez, as arvores que estavam embaixo que, em seu turno, levam as mais baixas e assim por diante. 

Por esse hábil processo, seções inteiras de florestas se abatem sobre o exército romano num horrível acidente. Na impossibilidade de fuga, a maioria dos romanos são esmagados ou feridos. Surgindo de todos os lados com poderosos gritos inumanos, os gauleses correm furiosamente para os sobreviventes. Para bem mostrar seu desprezo pela morte, muitos não possuem nenhuma vestimenta; eles tem unicamente torques e pulseiras de ouro.

Somente um escudo multicor protege seus corpos revestidos de pinturas coloridas. Esse espetáculo impressionante aterroriza os romanos ainda vivos, que se deixam massacrar sem mesmo tentar se defenderem. O único é o chefe Postumios, que tenta corajosamente lutar antes de sucumbir em seu turno. Os Boiens levam sua cabeça como triunfo para sua fortaleza.

Seu crânio, banhado em ouro, se tornara um vaso à libações utilizado em cerimônias religiosas. Quanto ao saque, os gauleses, antes do combate, haviam feito o voto solene de os oferecer à Teutatès. Eles transportam então todos os objetos recuperados dos inimigos, em particular as armas e as joias, para um local isolado. Lá, eles os empilham num pequeno monte. Esse depósito sagrado não será nunca roubado. Infeliz daquele que ousasse tocar no tesouro dos deuses!

A floresta, uma vez mais, salvara os gauleses. E em varias ocasiões, ela lhe fornirá um refugio protegido, notadamente das expedições de Cesar, quer seja a imensa floresta da Europa central cuja travessia necessita de mais de sessenta dias de marcha ou aquela dos Trévires*, perto de Moselle*, que poderia abrigar toda uma população. Escondidos nesse universo impenetrável, os gauleses podem sobreviver graças aos frutos e às caças que eles encontram.



*povo celta que viveu na Gália do leste, atual Bélgica.

** Rio francês, afluente do Rhin. Atualmente é o nome de um estado. 

 

Les Legendes du Monde - traduzido do original em francês por Elantia Leto

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